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11 de setembro de 2011

11 de setembro não deveria ter sido uma terça

Estava há alguns dias de completar dez anos, assim como hoje estou há alguns dias de concluir duas décadas. Aquele era, fatidicamente, o primeiro ano em que eu estudava de manhã, desbravando a 4ª série. Em uma cidade com pouco mais de sete mil habitantes, raramente um fato externo nos atingia, a não ser as eleições para Presidente da República, governador e deputados - que sempre tinham alto índice de abstenção. Era terça-feira e eu estava ansioso pra brincar com um Ranger Preto que tinha ganhado de um tio que morava em Minas Gerais.

No feriado de 7 de setembro, que caiu numa sexta-feira naquele ano, fui obrigado pelos meus pais e avós a ir visitá-lo e acho que vendo minha cara de poucos amigos, esse meu tio tirou o Ranger da cartola e tornou o feriado menos entediante. Mas na escola não era sempre que eu podia brincar com meu Ranger Preto, legalmente só às terças. É que às terças a última aula era de artes e se acabássemos a atividade antes do fim da aula, podíamos brincar. E eu estava bem empolgado em mostrar para os meus amigos meu Ranger Preto, naquela primeira terça-feira pós-feriado.

Tivemos as duas primeiras aulas, as quais não me lembro do que eram. Mas já no recreio, que começava sempre às 9h, percebemos que as tias não estavam nos olhando, como ocorria todos os dias. Elas ficavam lá todos os dias, basicamente para apartar as brigas de um futuro lutador de UFC, o qual não me lembro o nome. O fato é que esse cara sempre arrumava briga nos intervalos, porque aí as tias levavam para a diretoria e os envolvidos provavelmente iriam para casa, com suspensão de um dia a uma semana. Porém, se as tias não estavam lá naquele intervalo, não havia porque brigar. Foi um intervalo estúpido, mais ainda porque eu tinha esquecido meu Ranger Preto na mochila, na sala de aula, que ficava trancada durante todo o recreio e não era aberta nem por decreto.

Voltamos do recreio às 9h30, dez minutos a mais que o normal. Aquela manhã, definitivamente, estava estranha. A aula de artes estava prestes a começar, a não ser pelo fato de a professora não ter aparecido. A tia estava cuidando da sala pra não botarmos fogo ou destruirmos de algum outro modo. Não sei ao certo o horário, mas demorou muito até que a professora de artes aparecesse. Quando ela deu as caras, avisou em alto e bom tom que estávamos dispensados e que avisaria por telefone se haveria aula na quarta-feira. Uma menina tinha dito há poucos minutos para outra que ouviu uma das tias profanar que o mundo estava acabando. A notícia dada pela professora deixou quem tinha ouvido a besteira da menina um pouco desesperado.

Por fim, não tinha conseguido mostrar, nem se quer contar pra alguém sobre o meu presente do feriado. O Ranger Preto ficou o tempo todo na mochila. Quando cheguei em casa, minha mãe estava vendo na TV uns aviões se chocando com duas torres bem grandes. Peguei meu Ranger Preto e coloquei em frente à TV ligada. Ele salvou todo mundo que se jogava lá de cima.

3 comentários:

THIAGO DOS REIS disse...

HAHAHAH GENIAL

gleisse_s disse...

Eu não tive aula, tinha reunião na escola e eu vi tdo ao vivo, muito revoltada pq aquilo tava tomando o horário dos desenhos. ahauhauahuahah Eu ñ tinha mta noção msmo do quanto aquilo era mais surreal do que meus desenhos.

André Jankavski disse...

Ótimo texto!