f Catarina | ID

4 de maio de 2014

Catarina

À minha mãe
Teve esperados nove meses
A mim
Teve esperados 28 anos

Eu?
Dei sorte, não a esperei
Revelou-se desde o zero
Com uma manta, um óculos de grau experiente, daquele magrelo

A cada aniversário, um bolo
Diferentes bolos
Guaranás iguais, com vestes de papel cuja pretensão de enfeitar era
Uma pretensão

Aos domingos, me levava ao toboágua
Na infância
Porque hoje, hoje tem outras coisas
Não hoje de hoje, hoje desde mais de década

Que eu não vou ao toboágua
Eu vou na casa dela
Cear a comida dela
Cessar a saudade dela

Já quase me matou várias vezes
De medo
Por ameaçar viajar
Tão, tão cedo

Aí eu sofro duma ausência ainda inexistente
Adianto autoflagelo
Porque quando o tempo chegar, certamente
Haverei de querer lembrar momentos; um, singelo:

Baile de formatura
Me viro, percebo uma dupla de janelas marejada
O que foi, Vó? Ouso
Nada, filho; a Vó tá só emocionada.



1 comentários:

tratasedejose disse...

o percurso do verso cortando o tempo, o tempo cortando o verso. o indizível em tom próximo: guaraná com vestes de papel enfeitaram uma geração. resta o retrato e o verbo!