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22 de dezembro de 2014

Parece futurístico mas é semana que vem

Era algum ano entre 2009 e 2011. Talvez 2010. Quase certo que 2010. Entrevista de emprego em forma de dinâmica de grupo para uma vaga bastante disputada de estágio em uma famosa emissora de TV. Ao passo em que os candidatos se ajeitavam, a responsável do recursos humanos ditava as regras da primeira etapa do processo. Ela chamaria um a um até sua mesa e faria apenas uma pergunta. No começo achei que seriam diferentes indagações; depois, no café do intervalo, descobri que todos respondemos ao mesmo questionamento.

Esperava algo relacionado ao jornalismo ou uma daquelas perguntas típicas de RH. Que bicho você seria? Um leão. Por quê? Porque ele é o rei da selva e eu tenho espírito empreendedor. Ok, obrigado. Próximo.

Mas não. Fui surpreendido.

Como você espera estar em 2015?

Quebrou minhas pernas, lógico. Não que eu não tivesse uma resposta espontânea na ponta da língua, mas qualquer coisa que saísse (e saiu) seria clichê e estúpida. Espero estar vivo. Trabalhando. Estável financeiramente. Ser reconhecido pelo meu trabalho. Espero não estar em dinâmicas de grupo respondendo a questões existenciais sobre pretensões para o futuro.

Me parecia tão distante (e é) imaginar como estaria eu e o mundo dali 4, 5 ou 6 anos. Pior, o ano de 2015, só ele, me soava como futurístico. Não só quando a moça repetiu uma vez mais a única questão do dia. Desde muito tempo o número me conecta ao futuro.

Em 2015 carros voarão, refeições virão em cápsulas e seremos capazes de ler obras literárias inteiras em segundos.

Em 2015 respiraremos com máscaras de oxigênio, nuvens de poeira tomarão os horizontes das metrópoles e haverá falta d’água. Haverá...

2015 ainda poderia muito bem ter sido, bem antes de 2015, claro, título de longa de ficção científica do Kubrick ou de filme-catástrofe (nesse, com direito a tragédia no roteiro e nas bilheterias, muito provavelmente).

Não bastasse essa profusão de hipóteses, agora, devido a um tal de calendário gregoriano, me peguei imaginando tudo isso que alguma vez passou pela minha cabeça ser 2015 bater assim, sorrateiramente, como quem não quer nada, à minha porta. Prometendo sem acontecer. Acontecendo sem prometer.

Sim, me parecia futurístico mas é semana que vem

E agora, o que fazer? O que pensar? Ou, como indagaria a robótica moça graduada em recursos humanos: o que esperar em 2015?

Era tão futurístico que desacreditei nele chegando ou em mim chegando nele.

A única programação que [não] fiz diz respeito à pilha de livros que me aguardou à míngua durante todo o ano: eu tinha a esperança de que em 2015 a devoraria em dois quartos de hora, por isso só fazia me poupar. É, quem sabe em alguns dias não legitimam o soar futurístico do ano e nos brindam com um Google Glass 2.0 de leitura ultrarrápida.

Fora isso, as demais ilusões de futuro ao que tudo indica ficarão, bem... Pro futuro. 2038 talvez.

Porque 2015 é agora.


Publicado originalmente aqui.

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